Você sabia que o primeiro trio elétrico surgiu em 1929 na Bahia, e na verdade era um carro com um alto falante? Além disso, eu também sei que o Bloco da “Bola Preta” arrastou mais de 2 milhões de pessoas pelas ruas do Rio de Janeiro. Por falar em bloco, você sabia que só no Rio de Janeiro existem mais de 300 blocos de ruas?
Além de historiadora carnavalesca graduada pela Globo News, eu poderia muito bem ser jurada de escola de samba. Afinal, eu acertei a escola campeã.
Mas, acabou. Finalmente é quarta-feira de cinzas. Cinzas que nunca foram tão saudosas pra mim. Cinzas que para mim são como confetes prateados.
O que para muitos chega como o fim de uma incansável festividade, para mim chega como o fim da minha exaustiva tentativa de ser festiva.
Chega de ser telespectadora da festividade alheia e assisti-la em cenas editadas. Chega de se sentir culpada por não estar sendo arrastada por uma multidão de mágicos, super-homens, bruxas, cowboys e até smurfs. Chega de se sentir culpada por não estar cantando “ai se eu te pego” em coro fazendo a coreografia mais repetida no mundo.
Enquanto todos acordam de ressaca ou hibernam quarta-feira adentro para acordar com os olhos inchados e desfazer suas bagagens de histórias, eu acordo mais animada que puxador de escola de samba na avenida.
Eu nem me dou o trabalho de justificar minha graduação em Arte Carnavalesca durante os quatros dias mais quentes do ano.
Poderia dizer que lugar muito cheio me irrita. Que estou sem paciência para ser conferida como se fosse um pedaço de carne. Que eu não gosto de dançar, que eu não bebo e que dispenso viagens muito longas. Eu poderia.
Eu poderia martirizar a festa mais popular do país e condenar o feriado mais desejado do ano. Eu poderia.
Mas, acordei animada demais para julgar tantos olhos inchados e cinzentos ao meu redor.
Vou despejar meu saco de confete prateado cantarolando uma marchinha de carnaval dos anos 50 que aprendi na minha graduação em Arte Carnavalesca. Alias, você sabia que a quarta-feira de cinzas representa mudança de vida e a transformação na nossa efêmera e fraca passagem pela vida?
Celebremos então, Feliz Quarta-feira de Cinzas!